domingo, 8 de julho de 2012

Blocos Literários do Novo Testamento #1: Evangelhos



 A palavra “Evangelho” (grego: euanggelion) quer dizer boas novas. Mas, remete-se, especificamente, a uma boa nova, a Boa Nova de Cristo, do Deus que se faz homem e que vem ao mundo para salvar a humanidade perdida.  Em si, a mensagem da Boa Nova de Cristo pode ser sintetizada naquilo que Jo 3.16 afirma, o amor de Deus incondicional pela humanidade caída, a ponto de entregar Jesus para a remissão dos pecados. Mas, não se contém apenas em Jo 3.16, é muito mais do que ali está.
 Cada um dos livros, denominados Evangelho (segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas e segundo João) fala de uma maneira especifica sobre Jesus. Cada um desses relatos possui peculiaridades próprias, a serem abordadas a seguir.

 Mateus
 O Evangelho possui 28 capítulos e provavelmente tenha sido escrito por Mateus, o Levi descrito em Mt 9.9-13. Ele é datado por volta do ano 80 d.C. e é escrito para aqueles que eram judeus e que foram convertidos para o cristianismo, eram, portanto, judeu-cristãos.
 Mateus acentua demasiadamente que Jesus era o messias, que ele era o enviado por Deus e prometido no Antigo Testamento. Além de animar aos cristãos dispersos no mundo em que surge o evangelho. Mateus, o cobrador de impostos (coletor), enfatiza quem é esse Jesus, qual o seu “papel” e o que ele fez.
No evangelho podemos constatar a seguinte estrutura:
1 – 2   Infância
3 – 4.11 Introdução
4.12 – 18 Jesus atuando na Galileia
19 – 20 Jesus no caminho para Jerusalém
21 – 25 Jesus atuando em Jerusalém
26 – 28 Paixão e ressurreição
 Salienta-se como chave para o evangelho como um todo os versículos de Mt 28.18-20: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. ”

Marcos
 Este é o Evangelho mais curto relatado em nossas Bíblias, contendo 16 capítulos. Por causa disso muitos pesquisadores acreditam que ele tenha sido fonte para que os Evangelhos de Mateus e Lucas fossem escritos. Afinal, aquele que contém menos comentários provavelmente seja o mais antigo. Ele é datado por volta do ano 60 a 70 d.C. Ele é escrito, provavelmente, por João Marcos (At 15.37ss), este que era companheiro de viagens de Barnabé.
 Marcos tem peculiaridades próprias, ele fala (e afirma) da vinda do Reino de Deus e da superioridade de Deus sobre as criaturas (inclusive criaturas que poderiam ser vistas como demoníacas). Em suma, constata-se o agir de Deus por meio da pessoa de Jesus de Nazaré. Ele quer comunicar o Cristo que vem ao mundo e que é Deus.
 No evangelho podemos constatar a seguinte estrutura:
1,1-13 Introdução
1.14 – 9 Jesus atuando na Galileia
10 Jesus ao caminho de Jerusalém
11-13 Jesus atuando em Jerusalém
14-16 Paixão e ressurreição
Salientam-se como chave para o evangelho os versículos de Mc 16.15-18: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.”

Lucas
 O evangelho conta com 24 capítulos e provavelmente tenha sido escrito pelo Médico Lucas que acompanhava Paulo (At 16.10-17; 20.5-15; 21.1-18; 27.1-28.16). Ele é datado pouco depois do ano 70 d.C. E é destinado a Teófilo (Lc 1; At 1), é escrito por meio de uma pesquisa apurada, como aponta o próprio autor. Esta pesquisa é feita por meio de testemunhas oculares e ministros da Palavra, como o próprio autor fala (Lc 1. 1-4).
 Lucas compreende Cristo como o centro do tempo (criação-Cristo-morte/ressureição), além de dar demasiada ênfase na história da salvação. Por meio de sua pesquisa apurada Lucas quer apontar quem é esse Cristo e qual o seu papel no decorrer da história, salvar a humanidade.
O evangelho pode ser estruturado da seguinte maneira:
1 – 2 Infância até 12 anos
3 – 4.13 Preliminares
4.14 – 9.50 A obra de Jesus em Galileia
9.51 – 19.44 Ao caminho para Jerusalém
19.45 – 21.38 Em Jerusalém
22 – 24 Paixão e Ressurreição
 O central do evangelho pode ser verificado em Lc 24.49: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.”

João
 O evangelho contém 21 capítulos e é escrito, segundo muitos que se dedicam a pesquisa, pelo “discípulo que Jesus amava”, ou seja, o discípulo João que pergunta em Jo 21.21 “serei eu o traidor?”. O evangelho é datado por volta do ano 100 d.C., sendo o mais tardio a ser compilado.
 João, ao escrever o seu relato sobre a Boa Nova de Cristo já sabe que outros evangelhos foram escritos e possivelmente já os tinha a mão. Contudo, João não segue a mesma “sequencia” que os demais evangelhos, ele diverge em algumas questões com os demais evangelhos. João tem uma linguagem filosófica muito peculiar, ele utiliza termos que na época eram pontualmente utilizados pelos eruditos. Trata-se de um discurso muito bem pensado sobre o agir de Jesus na terra, uma defesa da pessoa de Jesus Cristo.
 O evangelho pode ser sistematizado da seguinte maneira:
1.1-18 Prólogo
1.19-51 Os testemunhos
2-12 A obra pública de Jesus
o 2-4 Jesus vem em sua palavra
o 5-6 Jesus vem em seus milagres
o 7-12 A rejeição pelos judeus
13-17 Os discursos de despedida
18-21 Paixão e ressurreição
 O centro da mensagem de João está em Jo 1.1-5: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava à vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”.

A questão Sinótica
 Constata-se uma nítida correlação entre os evangelhos, sendo que parece que eles falam da mesma coisa, porém com palavras diferentes. De fato, pode-se afirmar isso, cada autor de cada um dos evangelhos relata o agir de Jesus no mundo conforme viu, interpretou, foi informado e orientado pelo Espírito Santo.
 Constata-se que temas trabalhados em Mc são revistos em Mt, Lc e Jo. O mesmo relato pode aparecer, com palavras diferentes nos quatro evangelhos. Ou pode acontecer deque algum relato é encontrado apenas em um dos evangelhos, como é o caso da história de Zaqueu, relatada apenas em Lc 19. Contudo, isso não quer dizer que um evangelho tenha sido mais inspirado que o outro, pelo contrário, isso acontece por que Deus usou homens, que julgaram algo mais importante que outras, que interpretaram de diversas maneiras o que lhes era inspirado.
 Além disso existe uma explicação lógica para essas correlações, a teoria das duas fontes. Marcos seria uma delas, já a outra é conhecida como fonte Q (Alemão: Quelle). Esta segunda fonte perdeu-se com o tempo. Trata-se de uma hipótese em meio a tantas outras, contudo, é a mais aceita atualmente.


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